terça-feira, 27 de outubro de 2009

Personagem Real

Conte algo que me faça rir, que me desconcentre de tudo por alguns instantes.


Que seja engraçado, como aquelas histórias da sua infância, me transporte para um tempo diferente, onde não existia outro compromisso que não fosse a felicidade.


Detalhe os lugares, as pessoas, seus sentimentos pois quero conhecer você, me conte como era o cheiro, o gosto, o som do ambiente e da voz, a cores... deixe eu recriar seus espaços.


Me mostre seu mundo e de fato quem é você, não quero a ilusão de conhecer alguém.


Venha me trazendo para a sua história e me conte dos seus momentos difíceis, para que eu valorize seus aprendizados.


Fala das suas tristezas e o que lhe causou dor, enquanto isso, deixe eu repousar a cabeça no seu peito, e sentir o pulsar do seu coração revivendo cada momento, para que eu me emocione e sinta um pouco da emoção de cada um deles, para dar-lhes a devida importância.


Deixe eu saber dos seus gostos mais exuberantes, do seu sonho mais tresloucado, das suas chatices, dos seus vícios e tudo o mais que forma quem és.


Cante a sua canção predileta, sabe aquela que a gente adora cantar no chuveiro escondido de todos com direito a vozes e coreografias.


Não quero saber seus segredos, eu quero saber quem é o personagem real, pois o restante eu invento somando a minha história.


Ah, a minha história...


Minha infância foi toda especial cabelo curto, bota ortopédica e muita travessura, entre bolas de gude e papagaios, joelho esfolado e cabeça rachada... banho de bacia, mangueira só de calcinha, era dona de casa entre as minhas panelas, fogãozinho e outros utensílios, nunca fui boa mãe para as minhas bonecas pois enjoava delas com total facilidade e desde cedo amava lecionar para meus bichos, para mim a vida e o quintal era um palco, onde cantava e dançava piruetando, rodopiando e saltitando. 

O seu cheiro era de bolinho de chuva, regado a muita canela e açúcar e seu som era a voz da minha mãe chamando pra entrar com o venha comer menina, o ronco do opala prata do meu pai chegando anunciando que mais um dia chegava ao fim, as suas cores eram o azul com bolinhas cor-de-rosa retrato da mais pura felicidade...


Com o tempo muita coisa mudou, mas acredito que eu continuo a mesma moleca, uma criança grande, de sonhos imensos, e medos maiores que me impulsionam não que me paralisam.


O que me para??? hummmm.... uma boa história, um abraço apertado, uma panela de brigadeiro pra comer de colher, algo que me tire o fôlego de tanto rir ou de tanto chorar sei lá os dois são fáceis por demais da conta... uma saudade, mas, não me param por muito tempo, só o tempo necessário para vivê-lo.


Meu sonho mais tresloucado é ser Juíza do Trabalho. 

Minha maior chatice é ser mimada mesmo, pense em uma filha única de TPM...sou eu. 

Vícios??? Queijo, Café, Chocolate, tudo o que eu não posso.


Não tente desvendar meus segredos, preservei o hábito de dançar piruetando rodopiando e saltitando pela casa e não tenho vocação para a vida doméstica nem para a maternidade ainda... essa personagem é real, viu!


Canção Predileta... essa eu faço questão que ouça e veja ao vivo, se resistir é sinal de que será meu.


Quem é Você...

Quem é você que chega de mansinho, em silêncio, se faz amigo e vem apossando-se de mim sem eu dar conta.


Quem é você dono dos meus pensamentos mais impuros e santos, que ocupa meus espaços vazios e me dá o seu sorriso alegre, que doma meus sentimentos frios e perfuma a minha pele, com o seu suor.


Quem é você que vem se apossando de mim assim tão impunemente, com consciência e razão e eu não sei te dizer não.

Quem é você que me leva assim tão a revelia, que me descobre onde eu mesmo me desconheço, que põe meu sangue a ferver, aquece meu corpo e me ensina como ter prazer.

Quem é você que vem se apossando de mim, sem nunca ser um peso morto, mostrando-me que amar e dar e receber, que me furta os sentidos e me deixa inteira .

Quem é você que me tira o juízo, me põe indefesa, que me toma de uma forma sua e pra sempre e me põe sempre atenta querendo te amar.


Graça sem graça.

É engraçado como algumas coisas não tem a menor graça, e no entanto caímos em risos para não nos afogarmos em prantos.


Como sufoca o peito e perturba a mente tantos projetos sendo descartados, essa sensação de impotência, de fim, que nada valeu a pena, de circo armado e palhaço no picadeiro é que atormenta.


Porque nos permitimos a esses papeis ridículos... o pior porque sempre nos deixamos levar em histórias semelhantes.


Não compreendo, mas deixo-me levar em todas elas como se fossem meu maior e último caso de amor.
Que carência é essa que me encontro, que me perco do que eu almejo, do que eu realmente sou.


Me apego de verdade mesmo sabendo que não devo me envolver, mesmo sabendo que vou ter que me reconstruir, sabendo que existirão marcas e que algumas delas vou tentar esconder a todo custo, principalmente de mim.


Meu silêncio, meu choro sufocado, meu coração reaprendendo como eu a pulsar a vida, negando tudo e procurando o tudo e nada que expurgue você.


Leio novos autores que nem são tão novos assim, meu guarda-roupa ganha um novo tom, escuto novas versões para antigas canções, provo uma nova especiaria da gastronomia regada a bom vinho... arquivo as fotos das viagens e dos bons momentos que também nem foram tão bons, mas que valeu pelos amigos, pelos risos e pelas histórias.


E no entanto acho graça dessa bagunça sem graça toda que eu crio, e a resposta é simples: deve ser porque de tudo isso o que sobra é o que existe de mais essencial e verdadeiro em mim.


Então abro o coração para novos sonhos, construo projetos que sei lá vão dar em algum lugar, coloco o melhor sorriso estampado no rosto, arrumo uma nova trilha sonora... e acredito sinceramente que o próximo amor será o maior e último da minha vida.


E que seremos felizes para sempre mesmo que não tenha a menos graça isso tudo.



Encerrando o capítulo.

Escrevendo a última página em branco do capítulo 44 da minha vida.  Revejo os muitos rabiscos rascunhados, sem ter tempo para passar a limpo...